terça-feira, 26 de julho de 2011

QUINTO CAPÍTULO - A CAPITAL DO OUTRO ESTADO.


Um pouco atordoado acordou Miguel, olhou ainda no escuro para as malas feitas ao pé da cama, sentiu medo, chorou.
Aqueles dezoito anos haviam lhe ensinado tão pouco da vida, mas naqueles quase três últimos meses havia aprendido muito, a saudade do pai atravessava dias a fio, apertava o peito, fazia com que ele quisesse passar mais dias e dias ao lado daquela Madalena. Mas era hora de partir.
Havia prestado vestibular naquela faculdade famosa, aquela na capital do outro estado. Menino do interior, não sabia nem como se situar em um lugar tão grande, se sentia um pouco reprimido por isso, tinha medo do que iria encontrar.
Rapaz sempre tão bem informado, amante dos livros, escrevia bem, argumentava melhor ainda, ficou entre Direito e Jornalismo, optou por Jornalismo.
Tomou um café preto ao lado da mãe e de Julia, sorriu algumas vezes, mas não conseguia esconder o quanto estava apreensivo, ansioso. Deu um longo abraço nas duas e partiu em meio às lágrimas, sabia que voltaria. Mas sabia que seria difícil o que viria.
Eram doze horas do dia dois de fevereiro, chegava a grande capital Miguel, rapaz tão bem  informado se sentindo perdido naquela rodoviária enorme, cheia de gente embarcando e desembarcando de viagens que na maioria das vezes mudava suas vidas, começou a prestar atenção em quantas famílias se separavam, de quantos casais se despediam em meio a beijos e lágrimas. Era um lugar de reencontros e despedidas, um lugar triste e alegre ao mesmo tempo. Um temporal de sentimentos se colocava sobre aquele lugar, sobre cada centímetro daquele lugar.
Sentia-se só, ainda mais nos primeiros dias. Morava em uma pensão com mais muitos outros meninos, mas sempre estava em seu quarto, recolhido, lendo, escrevendo cartas e mais cartas que enviava para a casa.
Era sempre notado na faculdade, rapaz bonito, forte, aquela barba por fazer e aquele ar um pouco desleixado encantava as moças que sempre viam Miguel como um homem que necessitava de cuidados e atenção. No fundo era só o que precisava para se livrar daquela solidão.
Havia uma moça de belos olhos verdes que lhe chamara atenção, aqueles cabelos cacheados, aquela pele branca, um tanto intensa chamava atenção e longe. Era aluna do curso de Direito, nunca conseguiu se aproximar, não tinha assunto, nunca tinha assunto com a mulher que o encantara.
Se lembra Miguel de quantas vezes a viu pelo corredor e ensaiou mil palavras para dizer, mas por fim sempre ficava pra depois, sentia o coração pulsar forte, sentia saudade misturada a aquilo tudo, como se já a conhecesse, como se já sentisse por ela mais que encantamento.
Certo dia, indo para a casa visitar a mãe, entrou naquele ônibus que o trouxera para a capital, se sentou e começou a pensar nos caminhos que havia traçado para chegar até ali, do medo. Aí sorriu, quando se lembrou do medo que sentia sorriu, já estava se acostumando com aquela cidade que lhe provocava arrepios de medo, achava todo aquele medo bobagem agora. De repente alguém se sentou ao seu lado. Era ela!
Miguel sentiu seu corpo congelar, borboletas no estomago, quanto tempo não sentia borboletas no estomago? Completamente desajeitado olhou para a moça e sorriu, ela retribuiu, abriu um belo sorriso, era o mais belo sorriso do mundo acompanhado daquele olhar, daquele que o fazia tremer a alma. Aqueles olhos! Ah aqueles olhos não lhe eram desconhecidos e aquilo deixava Miguel encabulado.
- Miguel! Filho do Capitão Matias, Matias Simon. Disse ela.
Assustado ele olhou nos olhos dela, com aqueles olhos cor de noite arregalados e fez que sim com a cabeça. Ela sorriu.
-Será que eu realmente a conheço? Meu deus! Mas eu nunca me esqueceria se a conhecesse. Pensou ele.
- Eu ouvi seu nome pelos corredores da faculdade, logo minha mãe veio me lembrar da amizade de nossos pais, eu tentei falar com você, mas estava sempre tão distante. Disse ela.
- Quem é seu pai? Perguntou ele ainda um tanto assustado coma situação.
- João Matos, eu sou filha do também Capitão Matos. Fez um silêncio. Lembro-me vagamente de você, da mata, dos nossos pais e da cabana, éramos tão crianças.
- Sophia?! Disse ele com grande espanto.
-Sophia! Respondeu ela com sorriso nos lábios.

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