quinta-feira, 21 de julho de 2011

TERCEIRO CAPÍTULO - BEM ME QUER, MAL ME QUER.


Fazia frio naquela manhã de junho, mas Miguel se preparara para ir à escola, assim como fazia todas as manhãs desde os sete anos de idade. O tempo havia se passado, era moleque, adolescente, algumas espinhas lhe enfeitavam o rosto, mas não lhe tiravam aquele ar de menino levado, menino metido a espertinho que sempre atraia para si olhares atentos de todos os que o rodeavam.
Idade complicada em Miguel? As vezes se sentia tão menino, as vezes se via se tornando um rapazinho, cheio de iniciativas e ideias.
Chegou um pouco mais cedo, se sentou naquele lugar de sempre, os colegas chegavam um a um quando ela entrou. Ana tinha olhos de mel, Miguel sempre reparava os olhos, ainda mais daquela menina que se sentava todos os dias ao seu lado mas nunca o percebera, aquela que durante anos foi alvo imediato de todos os seus olhares, que lhe invadia os sonhos, que lhe fazia suspirar.
Naquela manhã ele estava decidido.
-Vou dizer a ela tudo o que sinto, antes que mais anos se passem e eu me torne mais invisível ainda, menos importante, mais distante. Pensou ele.
Se levantou tremulo, colocou a mão embaixo da mesa e de lá tirou uma rosa, uma rosa vermelha e um bilhete. Foi tremulo até a mesa da garota, a olhou, se sentiu completamente idiota naquele momento, e pensou: Oras bolas! O que eu estou fazendo aqui? Que besteira a minha imaginar que só por estar praticando um gesto “bonitinho” ela vai me dar uma chance de entrar em sua vida.
-Miguel? Miguel! Dizia ela olhando para o menino parado, perplexo que sequer proferia alguma palavra, apenas a olhava. Parado, bobo, pateta.
-Oi? Respondeu ele meio que saindo de um estado de transe.
-O que foi?
-Nada, eu só queria, queria, queria te entregar isso.
As mãos do garoto soavam frias, e completamente tremulo ele entregou o bilhete e a rosa a ela, e em menos de um segundo se virou, voltou a sua mesa e se sentou completamente inseguro, tímido, perdido.
Ana o olhou de onde estava, sorria ou ria, não sei bem ao certo. Aquilo causava sensação de pânico em Miguel, que não sabia o que fazer, o que pensar. O que pensar?
Durante três dias ele chegava a escola de cabeça baixa, se sentava, não saia para o intervalo. Se mantinha calado, talvez com vergonha da menina, talvez sem saber o que fazer, mas não arrependido, arrependido não!
Não notara os olhos da menina que passou a notar sua existência, ela esperava que ele a olhasse, falasse com ela, mas Miguel estava preso de mais no casulo para isso, se importava tanto com o que ela achava que não se abria a saber o que ela achava de verdade. Era só um menino que acabava de conhecer aquela sensação aterrorizante das mãos tremulas, das palavras sendo gaguejadas, das borboletas no estomago.
Se lembrava de um outro amor, um menos complicado e mais mágico, se lembrou de Sophia. Ah Sophia! Quanta beleza havia naquela menina. De repente pulou daquele pensamento se reprimindo: -Era coisa de criança. De criança tão criança. Não conta, não, não conta!
Mas aquela garota que o chamava atenção era diferente, era menina, menina se transformando em moça. Era sim quase uma moça.
E isso vinha lhe consumindo os dias, aquele pobre coração de garoto vinha por sofrer de mais naquela incerteza, não tinha coragem para falar com ela novamente, mas não suportava mais aquela agonia.
Até que por fim resolveu deixar com que a coisas acontecessem. Voltou a frequentar o patio no intervalo e a levantar a cabeça.
Certo dia, o relógio marcava nove horas, exatas nove horas. Hora do intervalo quando o sinal tocou.
Quando ia e levantando para sair ouviu aquela voz doce a dizer: - Miguel, você, você não falou mais comigo.
Ele se virou e ela estava ali, tão linda olhando para ele, esperando uma resposta, uma reação, qualquer coisa que explicasse a reação estranha de Miguel que, afinal de contas se declarou a garota e nunca mais falou com ela.
-É que eu pensei que... Fez um enorme silêncio.
-Que eu não gostei de saber que você gosta de mim?
-Não, quer dizer é. Respondeu ele completamente desnorteado.
Ela sorriu. Como era belo aquele sorriso, como eram belos aqueles olhos cor de mel, como eram lindos aqueles cabelos castanhos claros, lisos, finos, bem cuidados. Era uma menina, uma menina que certamente se tornaria uma linda mulher.
Por diversas vezes Miguel havia imaginado passar o resto de sua vida com aquela garota e depois se reprimia com pensamentos do tipo: - Ela nunca vai olhar para mim, ela nunca me notou mesmo!
Mas ela estava ali, olhando nos olhos dele, esperando por qualquer reação, qualquer palavra, qualquer coisa que viesse dele.
-Eu me surpreendi, nunca achei que você, sempre tão na sua sentisse alguma coisa por mim, no começo me senti um pouco assustada.
-E isso é bom ou ruim? Disse Miguel.
-Não sei, não sei. Respondeu ela.
Se olharam durante longos minutos, os corações pulsavam como se houvesse o terremoto dentro deles, como se o mundo parasse. Teve medo, deu um curto beijo na garota e saiu correndo, correndo com medo de sabe-se lá o que. Medo do que viria depois.
Certa noite passava em frente a casa da menina, ela se encontrava sentada na varanda, quando o viu entrou, fechou a porta sem ao menos olhar pra ele.
Miguel estava despedaçado, não sabia se pelo beijo ou pela fuga, mas parecia que ela não estava muito feliz com ele.
Longos meses se passaram sem que voltassem a se falar, veio a formatura do primeiro grau, vieram outras meninas com as quais Miguel trocou cartas, carinhos, beijos e momentos, agora sem aquela timidez e inexperiência que o atormentara, mas jamais se esqueceu de Ana. Por fim ela se mudou, nunca soube exatamente para onde. Havia ido e ele jamais soube no que daria aquele amor, e as vezes ainda se pagava com uma flor na mão repetindo aquela brincadeira que todos um dia já fizeram: - Bem me quer? Mal me quer? Bem me quer?

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