terça-feira, 19 de julho de 2011

CAPÍTULO PRIMEIRO - A CABANA


Tinha sete anos de idade, aqueles olhos negros assim como a noite, assim como a escuridão. Olhos grandes de menino travesso, arteiro que só ele. Miguel causava preocupação, muito inquieto desmontava todas as coisas da casa, brincava de tentar montar mas nem sempre conseguia.
Era menino curioso, era menino, sabe como é menino né?
Seu pai severo, Matias, militar, um tanto quanto opressor as vezes, reprimia as ideias do menino, as brincadeiras de Miguel.
Fora criado em regime rígido, também filho de militar, também filho da opressão. Sempre olhando para o menino com olhos de reprovação, olhava de canto de olho com aqueles olhos verdes de tonalidade indefinida, as vezes mais claros, as vezes mais escuros, mas sempre verdes. Verdes, diferentes dos de Miguel.
As vezes quando chegava mais cedo em casa saia com o garoto e lhe falava sobre formas de sobrevivência em lugares improváveis, sobre métodos para se defender do frio, da fome, dos invasores. Isso fazia do garoto forte, precavido. Não que lhe interessasse seguir os passos do pai, mas ele dava atenção, achava importante, útil.
Quando chegavam as férias iam os dois pra o meio de uma mata, mata fechada perigosa, os ruídos da noite as vezes assustavam o garoto, não assustavam Matias, que embora fechado sempre se divertia com os medos do filho que sempre acordava no meio da noite com pavor dos sons dos animais na floresta não devastada.
Tinham ali uma Cabana construída por mãos humanas, lugar até acolhedor, mas em meio a mata não deixava de ser perigoso, não deixava de assustar o pequeno Miguel.
Durante aquele período caçavam animais, se alimentavam deles, viviam coisas diferentes daquelas que o cotidiano oferecia, eram felizes. O garoto chegava a esquecer quantas palmadas o pai lhe dava quando aprontava das suas em casa, era como se naqueles dias Matias fosse um pouco mais criança, era como se fosse mais próximo, menos rude.
Certa feita, Matias pescava a beira de um riacho próximo a cabana quando Miguel apareceu apavorado, com aqueles olhos enormes ainda maiores, tremia as pernas, gritava desesperado: - Me salve papai, ele vai me pegar!
Matias olhou e sorriu com cara deboche, um tanto quanto brincalhão.
- Calma filho, é só um cachorro! Disse ele.
- Mas cachorro Pai? Não é um lobo?
- Não Miguel! Não é um lobo!
Matias esperava por amigos que traziam consigo um pequeno animal. Eram eles João e Sophia, ele outro militar, amigo de anos do pai de Miguel, ela uma linda garota, de madeixas negras onduladas e belos olhos verdes, menina encantadora, filha de João, tinha oito anos, talvez nove. Miguel ao vê-la sentiu seu pequeno coraçãozinho pulsar. - É uma menina! É uma linda menina. Pensou ele.
Naqueles dias Miguel se divertia com aquele grupo um pouco maior que o costumeiro, sempre esteve só com seu pai na cabana de férias, desta vez tinham companhia, João e Sophia. Ah Sophia! Que fazia aquele pequeno coraçãozinho quase pular do peito.
Mas Miguel era só um menino, sabe como é menino nessa idade né? Pelo menos naqueles tempos. Ele gaguejava, se perdia de vergonha quando tinha que falar diretamente com ela, ela sorria, achava bonitinho, achava estranho, as vezes nem sabia o que achava. Era tão criança, eram tão crianças.
Os dias se passaram e aquelas férias se foram, na cabeça de Miguel ficou apenas aquele sorriso tímido da garota mais linda do mundo. Seria pra ele um primeiro amor, seria pra ele um dia aquela lembrança doce de infância que sempre enche os olhos e provoca risos, provoca recordações engraçadas. Coisas que todo mundo tem, sabe como é? Primeiro amor.



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