quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SEXTO CAPÍTULO - SOPHIA




Foram horas de viagem conversando com aquela que por tanto tempo o intrigara, foram horas incansáveis, deixando o caminho até mais curto. Ele a olhava como se nada mais importasse, apenas o que dizia Sophia. Era inteligente, falava sobre politica, convivência, comportamento, falava e ele se sentia um pateta, perplexo frente a aquela mulher.
Era intensa, exalava um brilho forte, era ariana. Ah arianas! Arianas sempre tem aquele pulso forte, são firmes, surpreendentes e intensas, tão intensas. São capazes de fazer desordem na vida de qualquer cristão, no fundo acabam trazendo uma paz enorme no fim de tanta confusão, são mulheres daquelas que provocam a desordem na sua vida, afinal de contas são tão impulsivas, mas que trazem em si a capacidade de fazer com que você conheça as nuvens, o céu e todas aquelas coisas sobre as quais fala o amor. Quem descreveu o amor pela primeira vez certamente amou uma ariana.
Virginiano, perfeccionista, um tanto quanto centrado Miguel se lembrou de todos aqueles ditos. Havia lido entre outros assuntos sobre astrologia e todo tipo de mistica, era curioso, sabia um pouco de cada coisa.
Veio a sua cabeça aquilo tudo que dizia a astrologia, arianos e virginianos não se dão bem em aspecto nenhum, mas dentro dele alguma coisa dizia que era bobagem, que perto daquela ariana ele se sentia vivo, sentia sangue pulsar nas veias, se sentia até um pouco ariano também.
-Que absurda essa minha comparação! Virginianos nunca serão arianos, são tão diferentes. Pensou ele. Mas continuou naquele raciocínio.
Sentia vontade de se jogar naquele mar de emoções que ela provocava, não era comum pra ele, mas ela instigava isso nele sem perceber. Ele se sentia capaz de fazer loucuras, coisas que nunca faria por ninguém. Tinha que dar certo.
Chegando a seu destino ele se ofereceu para acompanha-la até em casa, não ia perder a chance de saber onde ela morava. Não perderia a chance de saber como a encontrar novamente antes de voltar para a capital.
Chegando até a porta da casa de Sophia eles se olharam por segundos em silêncio.
-Bem, está entregue. Disse ele um tanto quanto desconsertado.
Ela sorriu, o beijou o rosto, se despediram. Ele deu um ou dois passou e se virou novamente para ela que o observava partir.
-Quando te vejo de novo?
-Quando quiser, nunca tem muito o que fazer por aqui, eu sempre estou em casa!
Sorriram, e ele se foi. Ela o observou por mais alguns minutos e entrou em casa.
Ao chegar em casa lhe esperava Madalena. Quanta saudade de Madalena!
Abraçou aquela linda mulher por minutos, sentia tanta saudade daquela mãe. Ela perguntou sobre os estudos, sobre a capital e falaram durante um longo tempo sobre Sophia e a amizade de seus pais, quando citavam o nome dela sentia seu coração pulsar forte. Era amor, ele certamente sabia.
Certa tarde de domingo resolveu ele chamar Sophia para um passeio pelo parque da cidade, não tinha muito o que fazer naquele lugar mas a companhia dela faria daquele lugar o mais perfeito de todos. Saiu por volta das quatorze horas de casa e foi até a casa dela.
-Sophia!! Chamou ele com a voz um pouco tremula, logo ela foi até a porta e o atendeu.
-Miguel! Disse ela com cara de espanto, exalando um certo riso, aparentando estar feliz em vê-lo novamente.
-Eu pensei que poderíamos sair um pouco, conversar, nos distrair. Disse ele.
-É claro! Vou apenas pegar uma blusa. Respondeu ela prontamente.
Aquele ar gelado de julho deixava aquelas tarde frias um tanto quanto românticas, e propicias a uma volta a dois, eles sabiam que havia algo diferente naquele encontro, sabiam que a força das estrelas levavam um de encontro ao outro e que era inútil tentar fugir.
Falaram sobre os astros e constelações, música e acontecimentos, relembraram a infância e aquelas férias no meio do nada, sorriam como bobos, apaixonados, adolescentes quando um beijo aconteceu, logo após eles se olharam como se não fosse a primeira vez, como se fossem um do outro, como se estivessem sempre ali.
Era notável aquela sintonia de atos, gestos e palavras, eles estavam intimamente ligados e qualquer um poderia notar.



terça-feira, 26 de julho de 2011

QUINTO CAPÍTULO - A CAPITAL DO OUTRO ESTADO.


Um pouco atordoado acordou Miguel, olhou ainda no escuro para as malas feitas ao pé da cama, sentiu medo, chorou.
Aqueles dezoito anos haviam lhe ensinado tão pouco da vida, mas naqueles quase três últimos meses havia aprendido muito, a saudade do pai atravessava dias a fio, apertava o peito, fazia com que ele quisesse passar mais dias e dias ao lado daquela Madalena. Mas era hora de partir.
Havia prestado vestibular naquela faculdade famosa, aquela na capital do outro estado. Menino do interior, não sabia nem como se situar em um lugar tão grande, se sentia um pouco reprimido por isso, tinha medo do que iria encontrar.
Rapaz sempre tão bem informado, amante dos livros, escrevia bem, argumentava melhor ainda, ficou entre Direito e Jornalismo, optou por Jornalismo.
Tomou um café preto ao lado da mãe e de Julia, sorriu algumas vezes, mas não conseguia esconder o quanto estava apreensivo, ansioso. Deu um longo abraço nas duas e partiu em meio às lágrimas, sabia que voltaria. Mas sabia que seria difícil o que viria.
Eram doze horas do dia dois de fevereiro, chegava a grande capital Miguel, rapaz tão bem  informado se sentindo perdido naquela rodoviária enorme, cheia de gente embarcando e desembarcando de viagens que na maioria das vezes mudava suas vidas, começou a prestar atenção em quantas famílias se separavam, de quantos casais se despediam em meio a beijos e lágrimas. Era um lugar de reencontros e despedidas, um lugar triste e alegre ao mesmo tempo. Um temporal de sentimentos se colocava sobre aquele lugar, sobre cada centímetro daquele lugar.
Sentia-se só, ainda mais nos primeiros dias. Morava em uma pensão com mais muitos outros meninos, mas sempre estava em seu quarto, recolhido, lendo, escrevendo cartas e mais cartas que enviava para a casa.
Era sempre notado na faculdade, rapaz bonito, forte, aquela barba por fazer e aquele ar um pouco desleixado encantava as moças que sempre viam Miguel como um homem que necessitava de cuidados e atenção. No fundo era só o que precisava para se livrar daquela solidão.
Havia uma moça de belos olhos verdes que lhe chamara atenção, aqueles cabelos cacheados, aquela pele branca, um tanto intensa chamava atenção e longe. Era aluna do curso de Direito, nunca conseguiu se aproximar, não tinha assunto, nunca tinha assunto com a mulher que o encantara.
Se lembra Miguel de quantas vezes a viu pelo corredor e ensaiou mil palavras para dizer, mas por fim sempre ficava pra depois, sentia o coração pulsar forte, sentia saudade misturada a aquilo tudo, como se já a conhecesse, como se já sentisse por ela mais que encantamento.
Certo dia, indo para a casa visitar a mãe, entrou naquele ônibus que o trouxera para a capital, se sentou e começou a pensar nos caminhos que havia traçado para chegar até ali, do medo. Aí sorriu, quando se lembrou do medo que sentia sorriu, já estava se acostumando com aquela cidade que lhe provocava arrepios de medo, achava todo aquele medo bobagem agora. De repente alguém se sentou ao seu lado. Era ela!
Miguel sentiu seu corpo congelar, borboletas no estomago, quanto tempo não sentia borboletas no estomago? Completamente desajeitado olhou para a moça e sorriu, ela retribuiu, abriu um belo sorriso, era o mais belo sorriso do mundo acompanhado daquele olhar, daquele que o fazia tremer a alma. Aqueles olhos! Ah aqueles olhos não lhe eram desconhecidos e aquilo deixava Miguel encabulado.
- Miguel! Filho do Capitão Matias, Matias Simon. Disse ela.
Assustado ele olhou nos olhos dela, com aqueles olhos cor de noite arregalados e fez que sim com a cabeça. Ela sorriu.
-Será que eu realmente a conheço? Meu deus! Mas eu nunca me esqueceria se a conhecesse. Pensou ele.
- Eu ouvi seu nome pelos corredores da faculdade, logo minha mãe veio me lembrar da amizade de nossos pais, eu tentei falar com você, mas estava sempre tão distante. Disse ela.
- Quem é seu pai? Perguntou ele ainda um tanto assustado coma situação.
- João Matos, eu sou filha do também Capitão Matos. Fez um silêncio. Lembro-me vagamente de você, da mata, dos nossos pais e da cabana, éramos tão crianças.
- Sophia?! Disse ele com grande espanto.
-Sophia! Respondeu ela com sorriso nos lábios.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

QUARTO CAPÍTULO - A ÚLTIMA BATALHA DO HERÓI


Era manhã do dia treze de novembro, era verão, era um verão que certamente ficaria marcado na vida de Miguel, eram exatamente quatorze horas quando um senhor cheio de medalhas no peito parou o carro em frente a casa, desceu do carro ajeitando a farda e se dirigiu a casa. Tinha olhos azuis, azuis bem vivos como sempre reparava Miguel.
Com certo ar desconsertado se apresentou como Mendonça, Tenente Mendonça, e pediu para conversar a sós com Madalena.
Miguel se sentia um pouco acuado, fazia dias que não via o pai. Matias havia saído para uma missão com os olhos um pouco tristes, com cara de poucos amigos, demostrando que se não tivesse mesmo que ir não iria.
Se lembra Miguel que naqueles dias Matias fez as malas, tomou o café lendo o jornal sem dizer nenhuma palavra a mesa, amarrou os sapatos sempre tão bem engraxados, colocou seu cape e se despediu de Madalena e dos filhos. Mas desta vez de forma diferente, abraçou cada um deles e disse que os amava. Deu um beijo terno em Madalena e pediu para que orassem, não só por ele mas por todos aqueles que seguiam naquela missão.
Alguns minutos depois saiu Madalena da ante-sala, com os olhos rasos, lacrimejantes e juntou Miguel aos irmãos, deu um abraço forte a todos eles juntos e disse: -Temos que ser fortes meus anjos, porque seu pai não volta mais para a casa.
-Como assim não volta mais para a casa? Pensou Miguel.
-Grandes heróis assim como o pai de vocês dão suas vidas todos os dias para garantir que pessoas como nós possamos viver nossas vidas em paz, grandes homens garantem nossa segurança e tranquilidade. Temos que sentir saudade sim, mas acima de tudo temos que nos orgulhar de nosso Matias, temos que nós orgulhar de nosso herói.
Matias havia arriscado sua vida para salvar um colega, tinha arriscado e a perdido. Conta o Tenente Mendonça que Matias abraçou o amigo já ferido no campo de batalha para o tirar dali, não teve coragem de o abandonar e se salvar. Era um tal Mesquita, um soldado honrado, assim como um dia foi Matias. Quando uma chuva de tiros os alvejou, os levou, juntos, fieis, amigos.
Era quinze de novembro, tiros atravessavam o céu, homens marchavam e batiam continência, era um dia feio, sem sol, onde só era possível notar tantos homens fardados, carregando o pesado caixão feito em madeira maciça, marchavam, levavam para sempre aquele que era um herói para todos, principalmente para Miguel.
-Sou quase um homem, mas nunca serei este homem que hoje perco, este homem de coragem. Pensou Miguel que já completara dezoito anos, que apesar dos olhos negros da mãe trazia consigo grande semelhança com aquele Matias, aquele que se fora para sempre deixando para Miguel varias coisas, ensinamentos e exemplos, mas sobre tudo a certeza da não existência desta tal eternidade.
Marcos e Miguel se juntaram a Júlia em um abraço que rodeava aquela Madalena por todos os lados, como se dissessem: -Nós somos Matias, somos pedaços de Matias. E não lhe abandonaremos, jamais.
E daqueles olhos escorreram lágrimas. Era uma dor desconhecida, a dor da perda, aquela que jamais havia experimentado Miguel, era uma dor sem remédio, que só o tempo amenizaria. Sabia ele que os dias se passariam e que ele voltaria a ter uma vida, mas sabia também que aquele homem faria uma falta que ninguém supriria, sabia que aquilo que acabava de perder estava perdido para sempre.
E então se lembrou das tardes de férias na cabana, das caças, da pesca e das brincadeiras, dos ensinamentos e até das palmadas. Se lembrara com saudade até das palmadas e dos castigos, sabia que jamais teria aqueles olhos verdes o olhando de lado, mesmo que para reprimir, se sentiu um tanto impotente, um pouco desesperado.
Aquele quinze de novembro seria para sempre o dia em que o herói foi sepultado, seria para sempre o dia em que a voz bem intonada se calou.
-Descanse em paz bravo Capitão Simon! Descanse em paz meu pai.

TERCEIRO CAPÍTULO - BEM ME QUER, MAL ME QUER.


Fazia frio naquela manhã de junho, mas Miguel se preparara para ir à escola, assim como fazia todas as manhãs desde os sete anos de idade. O tempo havia se passado, era moleque, adolescente, algumas espinhas lhe enfeitavam o rosto, mas não lhe tiravam aquele ar de menino levado, menino metido a espertinho que sempre atraia para si olhares atentos de todos os que o rodeavam.
Idade complicada em Miguel? As vezes se sentia tão menino, as vezes se via se tornando um rapazinho, cheio de iniciativas e ideias.
Chegou um pouco mais cedo, se sentou naquele lugar de sempre, os colegas chegavam um a um quando ela entrou. Ana tinha olhos de mel, Miguel sempre reparava os olhos, ainda mais daquela menina que se sentava todos os dias ao seu lado mas nunca o percebera, aquela que durante anos foi alvo imediato de todos os seus olhares, que lhe invadia os sonhos, que lhe fazia suspirar.
Naquela manhã ele estava decidido.
-Vou dizer a ela tudo o que sinto, antes que mais anos se passem e eu me torne mais invisível ainda, menos importante, mais distante. Pensou ele.
Se levantou tremulo, colocou a mão embaixo da mesa e de lá tirou uma rosa, uma rosa vermelha e um bilhete. Foi tremulo até a mesa da garota, a olhou, se sentiu completamente idiota naquele momento, e pensou: Oras bolas! O que eu estou fazendo aqui? Que besteira a minha imaginar que só por estar praticando um gesto “bonitinho” ela vai me dar uma chance de entrar em sua vida.
-Miguel? Miguel! Dizia ela olhando para o menino parado, perplexo que sequer proferia alguma palavra, apenas a olhava. Parado, bobo, pateta.
-Oi? Respondeu ele meio que saindo de um estado de transe.
-O que foi?
-Nada, eu só queria, queria, queria te entregar isso.
As mãos do garoto soavam frias, e completamente tremulo ele entregou o bilhete e a rosa a ela, e em menos de um segundo se virou, voltou a sua mesa e se sentou completamente inseguro, tímido, perdido.
Ana o olhou de onde estava, sorria ou ria, não sei bem ao certo. Aquilo causava sensação de pânico em Miguel, que não sabia o que fazer, o que pensar. O que pensar?
Durante três dias ele chegava a escola de cabeça baixa, se sentava, não saia para o intervalo. Se mantinha calado, talvez com vergonha da menina, talvez sem saber o que fazer, mas não arrependido, arrependido não!
Não notara os olhos da menina que passou a notar sua existência, ela esperava que ele a olhasse, falasse com ela, mas Miguel estava preso de mais no casulo para isso, se importava tanto com o que ela achava que não se abria a saber o que ela achava de verdade. Era só um menino que acabava de conhecer aquela sensação aterrorizante das mãos tremulas, das palavras sendo gaguejadas, das borboletas no estomago.
Se lembrava de um outro amor, um menos complicado e mais mágico, se lembrou de Sophia. Ah Sophia! Quanta beleza havia naquela menina. De repente pulou daquele pensamento se reprimindo: -Era coisa de criança. De criança tão criança. Não conta, não, não conta!
Mas aquela garota que o chamava atenção era diferente, era menina, menina se transformando em moça. Era sim quase uma moça.
E isso vinha lhe consumindo os dias, aquele pobre coração de garoto vinha por sofrer de mais naquela incerteza, não tinha coragem para falar com ela novamente, mas não suportava mais aquela agonia.
Até que por fim resolveu deixar com que a coisas acontecessem. Voltou a frequentar o patio no intervalo e a levantar a cabeça.
Certo dia, o relógio marcava nove horas, exatas nove horas. Hora do intervalo quando o sinal tocou.
Quando ia e levantando para sair ouviu aquela voz doce a dizer: - Miguel, você, você não falou mais comigo.
Ele se virou e ela estava ali, tão linda olhando para ele, esperando uma resposta, uma reação, qualquer coisa que explicasse a reação estranha de Miguel que, afinal de contas se declarou a garota e nunca mais falou com ela.
-É que eu pensei que... Fez um enorme silêncio.
-Que eu não gostei de saber que você gosta de mim?
-Não, quer dizer é. Respondeu ele completamente desnorteado.
Ela sorriu. Como era belo aquele sorriso, como eram belos aqueles olhos cor de mel, como eram lindos aqueles cabelos castanhos claros, lisos, finos, bem cuidados. Era uma menina, uma menina que certamente se tornaria uma linda mulher.
Por diversas vezes Miguel havia imaginado passar o resto de sua vida com aquela garota e depois se reprimia com pensamentos do tipo: - Ela nunca vai olhar para mim, ela nunca me notou mesmo!
Mas ela estava ali, olhando nos olhos dele, esperando por qualquer reação, qualquer palavra, qualquer coisa que viesse dele.
-Eu me surpreendi, nunca achei que você, sempre tão na sua sentisse alguma coisa por mim, no começo me senti um pouco assustada.
-E isso é bom ou ruim? Disse Miguel.
-Não sei, não sei. Respondeu ela.
Se olharam durante longos minutos, os corações pulsavam como se houvesse o terremoto dentro deles, como se o mundo parasse. Teve medo, deu um curto beijo na garota e saiu correndo, correndo com medo de sabe-se lá o que. Medo do que viria depois.
Certa noite passava em frente a casa da menina, ela se encontrava sentada na varanda, quando o viu entrou, fechou a porta sem ao menos olhar pra ele.
Miguel estava despedaçado, não sabia se pelo beijo ou pela fuga, mas parecia que ela não estava muito feliz com ele.
Longos meses se passaram sem que voltassem a se falar, veio a formatura do primeiro grau, vieram outras meninas com as quais Miguel trocou cartas, carinhos, beijos e momentos, agora sem aquela timidez e inexperiência que o atormentara, mas jamais se esqueceu de Ana. Por fim ela se mudou, nunca soube exatamente para onde. Havia ido e ele jamais soube no que daria aquele amor, e as vezes ainda se pagava com uma flor na mão repetindo aquela brincadeira que todos um dia já fizeram: - Bem me quer? Mal me quer? Bem me quer?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

SEGUNDO CAPÍTULO - MADALENA, MADALENA!



“Madalena, Madalena. Você é meu bem querer, eu vou falar pra todo mundo, vou falar pra todo mundo que eu só quero é você.”


Era sempre dia, mesmo quando era noite, era dia claro de céu azul, era dia belo de sol quando surgia Madalena. Mulher forte, havia criado três filhos, o mais velho era Marcos, a do meio Júlia, e o caçula, o caçula era Miguel. Aquele menino “temporão”, não é que fosse o mais querido, era que era o menor, aquele que tinha a super proteção de todos, inclusive de Madalena.
Quando se casou com Matias era só uma garota que se deslumbrou por aqueles belos olhos, por aquele ar imponente daquele homem que embora fosse um tanto sério era encantador. Encantadora também era ela, com aqueles olhos cor de noite, assim, como os de Miguel.
Quando o dia nascia já havia acordado Madalena, era assim todos os dias. Era professora, gostava de ler, mantinha bons hábitos, mas naquela época, mulher de militar era mesmo dona de casa, dona de casa e mãe. Era a melhor mãe do mundo, batalhadora, forte, o que não te lhe tirava o encanto. Aos quase cinquenta, era uma linda mulher, o que enchia os olhos de Matias. Era bela aquela mulher, era dele aquela mulher.
Muitas vezes Miguel gastava muito do seu tempo observando aquela que pra ele era a mais bela das mulheres, ficava em volta, só olhando, aqueles olhinhos brilhavam ao observar aquela que era o amor de sua vida. Já um pouquinho mais velho pensava: - Vou ter uma mulher, assim como a de meu pai, me casarei com uma Madalena, encantadora, bela e dedicada.
Miguel acordava cedo e enquanto seus irmãos bem mais velhos se preparavam para ir para o trabalho ele se aprontava pra escola. Roupa limpinha, engomada, gravata com o nó bem dado, era Madalena que o aprontava. Colocava o lanche na lancheira, ela o fazia, e como fazia bem. Cozinhava divinamente, tinha mãos de anjo. Era um anjo.
Contava Matias que quando conheceu Madalena foi amor a primeira vista, estavam eles em uma baile, daqueles que só aconteciam antigamente, os rapazes olhavam as moças de longe, e até pegar na mão iam-se meses.
Foi assim também com Matias, Matias que sonhou com Madalena durante um longo tempo sem ao menos tocar. Era amor diferente, não tinha toque, era um amor de almas.
José, pai de Madalena era homem tradicional, só deixava que um homem tocasse as mãos de sua filha depois de ir fazer um pedido a ele, gastava de Matias, mas nem por isso foi mais fácil convencer o tal José.
Tinha oito irmãos, era a única mulher. Desde cedo encantava por onde passava. Aqueles cabelos lisos e negros, aqueles olhos rasos e verdadeiros, rasos como um lago onde se pode enxergar o fundo. Tinha luz, era a própria luz.
Quando os pais de Miguel se casaram, a casa era pequena, eram só os dois, mas logo veio Marcos, e as condições não eram das melhores, não eram ricos, não passavam nem perto disso. Matias se negava a deixar a mulher trabalhar fora, mas ela dava um jeito, lavava, passava e cozinhava para outras pessoas. Era mulher de fibra.
Quando veio Miguel as condições já eram melhores, não era esperado, afinal de contas Matias e Madalena já tinham uma certa idade. Foi como um presente dos céus que se encantavam com tanta doçura naquela Madalena.
Quando chegava a noite, naqueles dias de bom humor de Matias, chegava ele com aquele brilho radiante naqueles belos olhos verdes e cantava, com grande entusiasmo e Paixão: - “Madalena, Madalena. Você é meu bem querer, eu vou falar pra todo mundo, vou falar pra todo mundo que eu só quero é você.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

CAPÍTULO PRIMEIRO - A CABANA


Tinha sete anos de idade, aqueles olhos negros assim como a noite, assim como a escuridão. Olhos grandes de menino travesso, arteiro que só ele. Miguel causava preocupação, muito inquieto desmontava todas as coisas da casa, brincava de tentar montar mas nem sempre conseguia.
Era menino curioso, era menino, sabe como é menino né?
Seu pai severo, Matias, militar, um tanto quanto opressor as vezes, reprimia as ideias do menino, as brincadeiras de Miguel.
Fora criado em regime rígido, também filho de militar, também filho da opressão. Sempre olhando para o menino com olhos de reprovação, olhava de canto de olho com aqueles olhos verdes de tonalidade indefinida, as vezes mais claros, as vezes mais escuros, mas sempre verdes. Verdes, diferentes dos de Miguel.
As vezes quando chegava mais cedo em casa saia com o garoto e lhe falava sobre formas de sobrevivência em lugares improváveis, sobre métodos para se defender do frio, da fome, dos invasores. Isso fazia do garoto forte, precavido. Não que lhe interessasse seguir os passos do pai, mas ele dava atenção, achava importante, útil.
Quando chegavam as férias iam os dois pra o meio de uma mata, mata fechada perigosa, os ruídos da noite as vezes assustavam o garoto, não assustavam Matias, que embora fechado sempre se divertia com os medos do filho que sempre acordava no meio da noite com pavor dos sons dos animais na floresta não devastada.
Tinham ali uma Cabana construída por mãos humanas, lugar até acolhedor, mas em meio a mata não deixava de ser perigoso, não deixava de assustar o pequeno Miguel.
Durante aquele período caçavam animais, se alimentavam deles, viviam coisas diferentes daquelas que o cotidiano oferecia, eram felizes. O garoto chegava a esquecer quantas palmadas o pai lhe dava quando aprontava das suas em casa, era como se naqueles dias Matias fosse um pouco mais criança, era como se fosse mais próximo, menos rude.
Certa feita, Matias pescava a beira de um riacho próximo a cabana quando Miguel apareceu apavorado, com aqueles olhos enormes ainda maiores, tremia as pernas, gritava desesperado: - Me salve papai, ele vai me pegar!
Matias olhou e sorriu com cara deboche, um tanto quanto brincalhão.
- Calma filho, é só um cachorro! Disse ele.
- Mas cachorro Pai? Não é um lobo?
- Não Miguel! Não é um lobo!
Matias esperava por amigos que traziam consigo um pequeno animal. Eram eles João e Sophia, ele outro militar, amigo de anos do pai de Miguel, ela uma linda garota, de madeixas negras onduladas e belos olhos verdes, menina encantadora, filha de João, tinha oito anos, talvez nove. Miguel ao vê-la sentiu seu pequeno coraçãozinho pulsar. - É uma menina! É uma linda menina. Pensou ele.
Naqueles dias Miguel se divertia com aquele grupo um pouco maior que o costumeiro, sempre esteve só com seu pai na cabana de férias, desta vez tinham companhia, João e Sophia. Ah Sophia! Que fazia aquele pequeno coraçãozinho quase pular do peito.
Mas Miguel era só um menino, sabe como é menino nessa idade né? Pelo menos naqueles tempos. Ele gaguejava, se perdia de vergonha quando tinha que falar diretamente com ela, ela sorria, achava bonitinho, achava estranho, as vezes nem sabia o que achava. Era tão criança, eram tão crianças.
Os dias se passaram e aquelas férias se foram, na cabeça de Miguel ficou apenas aquele sorriso tímido da garota mais linda do mundo. Seria pra ele um primeiro amor, seria pra ele um dia aquela lembrança doce de infância que sempre enche os olhos e provoca risos, provoca recordações engraçadas. Coisas que todo mundo tem, sabe como é? Primeiro amor.



PRÓLOGO


Miguel sempre soube o que lhe esperava adiante, tinha crenças diferentes de todas aquelas advindas de sua criação, era homem forte de manias nenhum pouco comuns, havia dedicado toda sua vida a criação de conceitos somente seus, não tentava convencer ninguém deles. As vezes era visto como um profeta, as vezes como um sábio, as vezes até como louco. Mas sempre era percebido onde quer que fosse.
Homem bem sucedido não alcançou o sucesso de forma comum, tinha mil curiosidades e aos quarenta e dois anos de idade se dizia criança, pequeno, em aprendizagem.
Tropeçava, caia, se machucava, mas sempre voltava a estar de pé, era homem solitário e essa era a sua única dor.
Construiu um império somente com a força das palavras, dos sentimentos e do próprio coração, mas não conseguiu se livrar da solidão ao longo dos anos, isso o deixara um pouco preocupado, sentia falta de um colo, de uma família, de uma razão maior.
Eram vinte e duas horas da noite de sábado, Miguel tomava aquele scoth doze anos, sua única companhia para aquela noite fria quando ouviu aquele imenso estrondo.
Cambaleou pela sala até se encostar a parede e aos poucos foi se desfazendo com os olhos rasos. O sangue manchava a parede enquanto ele tentava não se entregar a dor, olhava fixamente para seu assassino com olhos de perdão, olhava serenamente embora a dor tomasse conta do seu corpo e assim, um tanto quanto ofegante proferiu as seguintes palavras: - Eu te perdoo por desferir contra mim a força da morte, te perdoo pelo espirito imundo e por toda essa falta de amor. Te perdoo simplesmente para que tenhas uma alma um pouco menos carregada quando nos encontrarmos novamente. Perdoo.
E assim foi fechando os olhos, se despedindo dessa vida. Quando flashes passaram frente a seus olhos.