quinta-feira, 21 de julho de 2011

QUARTO CAPÍTULO - A ÚLTIMA BATALHA DO HERÓI


Era manhã do dia treze de novembro, era verão, era um verão que certamente ficaria marcado na vida de Miguel, eram exatamente quatorze horas quando um senhor cheio de medalhas no peito parou o carro em frente a casa, desceu do carro ajeitando a farda e se dirigiu a casa. Tinha olhos azuis, azuis bem vivos como sempre reparava Miguel.
Com certo ar desconsertado se apresentou como Mendonça, Tenente Mendonça, e pediu para conversar a sós com Madalena.
Miguel se sentia um pouco acuado, fazia dias que não via o pai. Matias havia saído para uma missão com os olhos um pouco tristes, com cara de poucos amigos, demostrando que se não tivesse mesmo que ir não iria.
Se lembra Miguel que naqueles dias Matias fez as malas, tomou o café lendo o jornal sem dizer nenhuma palavra a mesa, amarrou os sapatos sempre tão bem engraxados, colocou seu cape e se despediu de Madalena e dos filhos. Mas desta vez de forma diferente, abraçou cada um deles e disse que os amava. Deu um beijo terno em Madalena e pediu para que orassem, não só por ele mas por todos aqueles que seguiam naquela missão.
Alguns minutos depois saiu Madalena da ante-sala, com os olhos rasos, lacrimejantes e juntou Miguel aos irmãos, deu um abraço forte a todos eles juntos e disse: -Temos que ser fortes meus anjos, porque seu pai não volta mais para a casa.
-Como assim não volta mais para a casa? Pensou Miguel.
-Grandes heróis assim como o pai de vocês dão suas vidas todos os dias para garantir que pessoas como nós possamos viver nossas vidas em paz, grandes homens garantem nossa segurança e tranquilidade. Temos que sentir saudade sim, mas acima de tudo temos que nos orgulhar de nosso Matias, temos que nós orgulhar de nosso herói.
Matias havia arriscado sua vida para salvar um colega, tinha arriscado e a perdido. Conta o Tenente Mendonça que Matias abraçou o amigo já ferido no campo de batalha para o tirar dali, não teve coragem de o abandonar e se salvar. Era um tal Mesquita, um soldado honrado, assim como um dia foi Matias. Quando uma chuva de tiros os alvejou, os levou, juntos, fieis, amigos.
Era quinze de novembro, tiros atravessavam o céu, homens marchavam e batiam continência, era um dia feio, sem sol, onde só era possível notar tantos homens fardados, carregando o pesado caixão feito em madeira maciça, marchavam, levavam para sempre aquele que era um herói para todos, principalmente para Miguel.
-Sou quase um homem, mas nunca serei este homem que hoje perco, este homem de coragem. Pensou Miguel que já completara dezoito anos, que apesar dos olhos negros da mãe trazia consigo grande semelhança com aquele Matias, aquele que se fora para sempre deixando para Miguel varias coisas, ensinamentos e exemplos, mas sobre tudo a certeza da não existência desta tal eternidade.
Marcos e Miguel se juntaram a Júlia em um abraço que rodeava aquela Madalena por todos os lados, como se dissessem: -Nós somos Matias, somos pedaços de Matias. E não lhe abandonaremos, jamais.
E daqueles olhos escorreram lágrimas. Era uma dor desconhecida, a dor da perda, aquela que jamais havia experimentado Miguel, era uma dor sem remédio, que só o tempo amenizaria. Sabia ele que os dias se passariam e que ele voltaria a ter uma vida, mas sabia também que aquele homem faria uma falta que ninguém supriria, sabia que aquilo que acabava de perder estava perdido para sempre.
E então se lembrou das tardes de férias na cabana, das caças, da pesca e das brincadeiras, dos ensinamentos e até das palmadas. Se lembrara com saudade até das palmadas e dos castigos, sabia que jamais teria aqueles olhos verdes o olhando de lado, mesmo que para reprimir, se sentiu um tanto impotente, um pouco desesperado.
Aquele quinze de novembro seria para sempre o dia em que o herói foi sepultado, seria para sempre o dia em que a voz bem intonada se calou.
-Descanse em paz bravo Capitão Simon! Descanse em paz meu pai.

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